Poesía brasileña actual: Fabrício Corsaletti

Presentamos, en el marco del dossier de poesía brasileña actual, preparada por Fabiano Calixto y traducido por Mijail Lamas, algunos poemas de Fabrício Corsaletti (Santo Inácio, 1978). Es autor de los libros Movediço (2001), O sobrevivente (2003), Estudos para o seu corpo (2007) e Quadras paulistanas (2013), entre otros.

 

 

 

 

 

 

ME GUSTÓ porque no olía

a perfume alguno

ni hablaba mal de la ciudad

donde nació

gustaba del sexo

y entendió perfectamente

mis propósitos

 

al final dijo:

“estuvo bien

mejor de lo que imaginaba”

 

 

 

 

 

 

HISTORIA DE LAS DEMOLICIONES

 

La historia de las demoliciones

la historia trágica de las demoliciones

no sucede en los cines

la vida no tiene banda sonora

las paredes caen silenciosamente

(si acaso el golpe de los martillos)

el piso barrido queda mejor

(el pasado no volverá en el ladrillo nuevo)

recordar lo que quieres que sea es inútil

las imágenes de la memoria son ruines

lo que quedaría en nosotros sería la esperanza

lo que murió está definitivamente muerto

no siquiera hay ganas de llorarlo

aún el luto es imposible

 

 

 

 

 

 

SU NOMBRE

 

si yo tuviera un bar tendría su nombre

si tuviera un barco tendría su nombre

si comprara una yegua le pondría su nombre

mi perra imaginaria tiene su nombre

si enloqueciera pasaría las tardes repitiendo su nombre

si muriera de anciano en el suspiro final balbucearía su nombre

si fuera asesinado con la boca llena de sangre gritaría su nombre

si encontraran mi cuerpo flotando en el mar en mi bolsillos habría un papel con su nombre

si me suicidara al jalar el gatillo pensaría en su nombre

la primera muchacha que besé tenía su nombre

en séptimo año yo tenía dos amigas con su nombre

antes de ti tuve tres novias con su nombre

en la calle hay mujeres que parecen tener su nombre

en el videoclub que frecuento tienen una dependienta con su nombre

a veces las nubes casi forman su nombre

mirando las estrellas siempre es posible dibujar su nombre

el último verso del famoso poema de Éluard podría muy bien ser su nombre

Apollinaire escribió poemas a Lou porque en la locura de la guerra no conseguía recordar su nombre

no entiendo por qué Chico Buarque no compuso música para su nombre

si yo fuera un travesti usaría su nombre

si algún día cambiara de sexo adoptaría su nombre

mi madre me contó que si yo hubiera nacido niña llevaría su nombre

si yo tuviera una hija ella llevaría su nombre

mi contraseña del correo ya fue su nombre

mi contraseña del banco es una variación de su nombre

me dan pena sus hijos porque comúnmente suelen llamarle mamá en vez de llamarle por su nombre

tengo pena de sus padres porque por lo general le dicen “hija” en vez de llamarle por su nombre

tengo mucha pena por sus ex maridos porque asocian el término ex mujer a su nombre

tengo envidia del oficial del registro civil que dactilógrafo su nombre

cuando me emborracho digo mucho su nombre

cuando estoy sobrio me controlo para no decir de más su nombre

es difícil hablar de ti sin mencionar su nombre

una vez soñé que todo en el mundo tenía su nombre

conejo tenía su nombre

jícara tenía su nombre

teleférico tenía su nombre

en el índice onomástico de mi biografía habrá millares de ocurrencias de su nombre

¿en la foto de Korda hacia donde mira el Che sino hacia el infinito de su nombre?

algunas profesoras de la USP serían menos amargadas si tuvieran su nombre

detesto el trabajo porque me impide concentrarme en su nombre

cábala es una palabra linda pero no le llega ni a los pies a su nombre

en la punta de mi bengala grabaré su nombre

no puedo ser nihilista mientras exista su nombre

no puedo ser anarquista si eso implica la degradación de su nombre

no puedo ser comunista si tengo que compartir su nombre

no puedo ser fascista si no quiero imponer a otros su nombre

no puedo ser capitalista si no deseo otra cosa que su nombre

cuando salí de casa de mis padres fui detrás de su nombre

viví tres años en un barrio que tenía su nombre

espero nunca dejar de amarte para no olvidar su nombre

espero que tu no me dejes para no ser obligado a olvidar su nombre

espero no odiarte nunca para no tener que odiar su nombre

espero que tú nunca me odies para no quedar arrasado al oír su nombre

la literatura no me interesa tanto como su nombre

cuando la poesía es buena es como su nombre

cuando la poesía es mala tiene algo de su nombre

estoy cansado de la vida pero eso no tiene nada que ver con su nombre

estoy escribiendo el quincuagésimo octavo verso sobre su nombre

tal vez yo no sea un poeta a la altura de su nombre

por medio de la dudas voy a acabar el poema sin decir de manera explícita su nombre

 

 

 

 

 

 

GOSTEI PORQUE não cheirava
_________a perfume nenhum
nem falava mal da cidade
_________onde nascera
gostava de sexo e
entendeu perfeitamente
_________meus propósitos

 
no final disse:
  _________“foi bom,
 _________melhor do que eu imaginava”

 

  

HISTÓRIA DAS DEMOLIÇÕES

A história das demolições
a história trágica das demolições
não acontece como no cinema
a vida não tem trilha sonora
as paredes caem silenciosamente
(no máximo a pancada dos martelos)
o chão varrido fica melhor
(o passado não voltará no ladrilho novo)
lembrar o que quer que seja é inútil
as imagens da memória são ruins
o que ficasse em nós seria a esperança
mas o que existe não exige lembrança
o que morreu está definitivamente morto
não há sequer a vontade de chorá-lo
o luto mesmo é impossível

 

 

SEU NOME

se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho no suspiro final balbuciarei o seu nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o seu nome
se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome
minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem “mãe” em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem “filha” em vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no seu nome
cabala é uma palavra linda mas não chega aos pés do seu nome
no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu nome
não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado ao ouvir o seu [nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida mas isso não tem nada a ver com o seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu nome
talvez eu não seja um poeta à altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer explicitamente o seu nome

 

 

 
Datos vitales
Fabrício Corsaletti nació en Santo Inácio (Sao Paolo) en 1978. Es autor de los libros Movediço (2001), O sobrevivente (2003), Estudos para o seu corpo (2007) e Quadras paulistanas (2013), entre otros.

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