Poesía brasileña actual: Angélica Freitas

Iniciamos un dossier de poesía brasileña actual, preparado por Fabiano Calixto y traducido por Mijail Lamas. Presentamos, para inaugurar este dossier, un acercamiento al trabajo de la poeta brasileña Angélica Freitas.  Nació en Pelotas (Río Grande del Sur) en 1973. Ha publicado los libros Rilke Shake (2007) y Um útero é do tamanho de um punho (2012).

 

 

 

 

 

 

EL LIBRO ROSA DEL CORAZÓN DE LOS IDIOTAS

 

 

I

 

yo cuando corto relaciones

corto relaciones.

no pasa lo

de las broncas en las gradas

de todos los

sábados.

es la extinción del estadio.

veo las fuerzas

que actúan, las tijeras,

el papel,

la voluntad de cortar.

¿todo es provocación?

entonces envuelves

tu taquicardia

en un helado de almendras

ruega que se derrita.

cuando recuerdo el

corte revivo la

herida.

mejor no.

el corte es definitivo,

el dolor regresa en forma

de milán madrid

o liverpool

cuando es convocado.

ricardo

recuerda tu pasado

sólo si te da placer.

how elizabeth

bennet of you.

¿mas cómo

deleitarse con la pérdida,

convencer a fulana

de que mi flaqueza

nada disuelve?

¿exigir un río de janeiro

con gatos y libros

legítima esposa?

me quedo soñando con

un viaje a un país donde la

lengua sea vértebra,

palabras con j

antes de la l,

y trastos griegos

que me devuelvan

a la casa que alquilé.

 

 

 

 

II

 

una novia

que se pinte las uñas

es inolvidable

tú puedes

extrañar los colores

mirar por la ventana

tomar cualquiera:

el verde del capo

de aquel carro

o el rojo de los

restos de una manzana

en el borde

el ocre de la liana

de tarzán en la tv

y pensar que

serían más bonitas

en las uñas de tu

novia

de lo que ese marrón

achocolatado

y cambia el canal

y al final se apasiona

por el frasco de acetona.

 

 

 

 

 

III

 

las mujeres son

diferentes de las mujeres

pues

en cuanto las mujeres

van a trabajar

las mujeres se quedan

en la casa

lavando la loza

y crían a los hijos

más tarde llegan

las mujeres

están siempre cansadas

se van a ver la televisión.

 

 

 

 

IV

 

yo tuve una novia

que no quería

convencerme de que

la vida es una mierda

es raro como un colador

por donde se ve la puesta del sol

es raro como un gallo tartamudo

un faro un farol hablador.

 

 

 

 

V

 

yo tuve una novia

con superpoderes

de invisibilidad

y cuando andaba con ella

también yo era invisible

 

pero cuando ella usaba

una blusa transparente

se convertía en la increíble

mujer-teta

 

yo me quedaba

bajo el paraguas

del superpoder

superinvisible

envidiable

a lado de las

cervezas y    

los supercacahuates.

 

 

 

 

VI

 

yo tuve una novia

que combinaba

mi sufrimiento

con tanguitas

azul claro

diminutivos

y new order

 

lo que yo quería era

pintar flores

en el martillo

revolcarme

en las palmeras

de plástico

del edificio

 

huir dejando

dos hijos

las letras completas

de suzanne vega

como me fui

un martes

lejos de las cajas

de cartón

y del beso a tu madre.  

 

 

 

 

VII

 

al final del día

sería lindo, tú

descubriendo que

el agua del escusado

gira para el otro

lado

en japón

sin tener con

quien cotejar

la información.

un tiempo

para acostumbrarse

a las noches de

mil dentífricos,

sherezada del

hálito de las

becas.

 

 

 

 

VIII   

 

al fin del día

estaré lejos

de villa mariana

con una botella

de gato negro,

tinto

de supermercado.

en alguna viña

de chile

alguien canta

y es hetero.

 

 

 

 

IX

 

al día siguiente

en tus sábanas

célos

con acento,

dolór con

acento,

porque son

antiguos

como el nescafé,

todos los conocen.

 

 

 

 

X

 

no debías casarte

con alguien que no te

lleva a pescar

o a ver la puesta de sol

en el desagüe de la bañera

o en la cumbre de un cerro

hay pocos lagos

en dinamarca, ella dice,

y me ofrece un

caramelo

masticable

cubierto de chocolate

medio amargo,

la montaña más

alta de dinamarca

tiene 173 metros

cien veces más que tú,

mi amor, y le di

caramelos.

 

 

 

 

XI

 

no debías casarte

con una subversiva

que lleva una máuser

debajo del poncho

y calzones

de algodón crudo

que ve a godard

y eructa coca-cola

que anota en

los márgenes de la página

de los compendios poéticos

de las ediciones gallimard

“lindo!” o

how true!”

 

 

 

XII

 

no debías casarte

con ella,

punto final.

susana thénon,

hija del neurólogo,

murió por tanto

cerebro.

si la historia se

repitiese, toda

enana e irónica,

las hijas de las monjas

nunca se casarían,

harían recuerdos de bodas

mas no tendrían

sentido.

y la familia de

angélica freitas

por fin invitaría

a la sociedad

pelotense para

el enlace

de sus hijas

angélica & angélica

en la catedral san francisco

de paula

a las 17 horas del

dia 38-39 (brasil)

40 (europa).        

o livro rosa do coração dos trouxas

 

 

 

 

I.

 

eu quando corto relações

corto relações.

não tem essa de

briga de torcida

todos os

sábados.

é a extinção do estádio.

vejo as forças

que atuam, a tesoura,

o papel,

a vontade de cortar.

tudo é provocação?

então embrulha

tua taquicardia

num sorvete de amêndoas,

reza que derreta.

quando lembro do

corte revivo a

ferida.

melhor não.

o corte é definitivo,

a dor retorna em forma

de milão madri

ou liverpool

quando convocada.

ricardo

lembra do teu passado

só se te dá

prazer.

how elizabeth

bennet of you.

mas tirar

deleite da perda,

convencer fulana

de que minha fraqueza

nada oblitera?

exigir um rio de janeiro

com gatos e livros,

legítima esposa?

fico sonhando com

a viagem a um país onde a

língua seja vértebra

sobre vértebra,

palavras com j

antes do l,

e cacos gregos

que me devolvam

ao aluguel da casa.

 

 

 

II.

 

uma namorada

que pinte as unhas

é inesquecível

você pode

estranhar as cores

olhar pela janela

e pegar qualquer

uma: o verde do capô

daquele carro

o vermelho do

restinho de maçã

no meio-fio

o ocre do cipó

do tarzan na tv

e pensar que

seriam mais bonitas

nas unhas de sua

namorada

do que esse marrom

achocolatado

e troca o canal

e se apaixona afinal

pelo cheiro da acetona.

 

 

 

III.

 

as mulheres são

diferentes das mulheres

pois

enquanto as mulheres

vão trabalhar

as mulheres ficam

em casa

lavando a louça

e criam os filhos

mais tarde chegam

as mulheres

estão sempre cansadas

vão ver televisão.

 

 

 

 

IV.

 

eu tive uma namorada

que não queria

me convencer de que

a vida era uma merda

 

é raro como um ralo

onde se vê o pôr-do-sol

é raro como um galo gago

um faro um farol palrador.

 

 

 

 

V.

 

eu tive uma namorada

com superpoderes

de invisibilidade

e quando andava com ela

também era invisível

 

mas quando ela usava

uma blusa transparente

virava a incrível

mulher-teta

 

eu continuava

sob o guarda-chuva

de superpoderes

superinvisível

invejável

ao lado das

cervejas e

superamendoins.

 

 

 

 

VI.

 

eu tive uma namorada

que combinava

meu sofrimento

com calcinhas

azul-bebê

diminutivos e

new order

 

eu queria era

pintar flores

na marreta

chafurdar

nas palmeiras

de plástico

do edifício

 

fugir deixando

dois filhos

as letras completas

da suzanne vega

como deixei

numa terça

longe das caixas

de papelão

e do beijo na tua mãe.

 

 

 

 

VII.

 

o fim do dia

seria lindo, você

descobrindo que

a água da privada

gira para o outro

lado

no japão,

sem ter com

quem dividir

a informação.

um tempo

para se acostumar

às noites de um

e mil dentifrícios,

sheherazade do

hálito das

bolsas de estudo.

 

 

 

 

VIII.

 

o fim do dia

seria longe

da vila mariana

com uma garrafa

de gato negro,

tinto

de supermercado.

nalguma vinha

do chile

alguém canta

e é hétero.

 

 

 

 

IX.

 

o dia seguinte

na tua cama

de lençóis

zêlo com

circunflexo,

a dôr com

circunflexo,

porque é

antiga,

como o café pelé

todos a conhecem.
 

 

 

X.

 

não devias te casar

com alguém que não te

leva a pescar

ou a ver o pôr-do-sol

no ralo do banheiro

ou no cume de um morro

há poucos lagos

na dinamarca, ela disse,

e me ofereceu um

caramelo

mastigável

coberto de chocolate

meio-amargo,

a montanha mais

alta da dinamarca

tem 173 metros,

cem vezes você,

meu amor, e dê-lhe

caramelos.

 

 

 

 

XI.

 

não devias te casar

com uma subversiva

que usa mauser

debaixo do poncho

e calcinhas

de algodão cru

em desacordo

com as meias

que vê um godard

e arrota coca-cola

que anota em

canto de página

de compêndios poéticos

das edições gallimard

“lindo!” ou

“how true!”

 

 

 

 

XII.

 

não devias te casar

com ela,

ponto final.

susana thénon,

filha de neurologista,

morreu de tanto

cérebro.

se a história se

repetisse, toda

nanica e irônica,

as filhas das freiras

nunca se casariam,

fariam bem-casados

mas não fariam

sentido.

e a família de

angélica freitas

por fim convidaria

a sociedade

pelotense para

o enlace

de suas filhas

angélica & angélica

na catedral

são francisco

de paula

às 17 horas do

dia 38-39 (brasil)

40 (europa).
 

 

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