Elvis Guerra, autor de Ramonera, en Portugal

Elvis Guerra, autor de nuestro catálogo, se encuentra en Portugal participando en FÓLIO-Festival Literário Internacional de Óbidos. Compartimos cuatro poemas de su libro Ramonera (Círculo de Poesía, 2019) en la traducción al portugués de Paula de Paula y Roberto Amézquita, seguidos por sus versiones en español. Puedes conseguir el libro de Elvis aquí.

 

 

 

 

 

NÃO ME ABRACE NA RUA

 

Não me diga “te adoro” na frente dos meus amigos,

vão me zoar se te respondo

eles sabem que sou uma cachorra

que não se deixa amar. ​​ 

Sabem também, que as vezes,

dou voltas numa cama

e de repente amanheço em outra.

Não me abrace na rua,

vai me vexar reconhecer que sou tua  ​​​​ 

porque antes de ti

fui de Pedro,

de Samuel,

de Gustavo

e não quero que me tachem de gata insaciável.

Não me beijes diante dos meus irmãos

porque te perguntarão

se já passamos de um beijo branco

a um mais escuro

ou de que tamanho são seus pés.

Meus irmãos são imprudentes,

não tente agradá-los.

Não me pergunte se creio no casamento​​ 

porque até as flores sabem

que faz um tempo me casei com o HPV

e a doença nunca me deu o divórcio. ​​ 

Não diga que me ama

se ainda não conhece

a cicatriz que guarda meu pescoço,

se ainda não sabe que aos seis anos

fui violado pelo meu tio

e depois pelo meu vizinho​​ 

e aos doze todos os da minha quadra

se masturbavam em mim,

e aprendi a guardar silêncio.

Se não está disposto a lidar

com meus quatro homens,

não se aproxime tanto de mim.

 

 

 

À CRIANÇA QUE FUI

 

Nasci dançando​​ la llorona​​ nos braços de minha mãe.

Nasci sendo uma criança​​ muxe’.

Nasci num jardim só de mulheres.

Nasci em setembro.

Nasci três anos antes de que Szymborska ganhasse o Nobel.

Nasci na noite que meu tio suicidou-se.

Nasci nos fios duma rede nua.

Nasci dum ventre que se abriu quatro vezes.​​ 

Nasci numa casa sem chão.

Nasci olhando um céu de veludo escuro.

Nasci abraçando uma boneca de pau.

Nasci com uma flor na cabeça.

Nasci com um vestido amarelo.​​ 

Nasci com um nome de cinco letras, e por cada letra tive um amante.

Nasci dum pai que odiava​​ muxes.

Nasci duma mãe que nunca conheceu o medo.

Nasci duma avó e seus múltiplos homens.

Nasci pedindo que não me matem.

Nasci cheirando à​​ guie’ xhuuba’​​ porque os​​ muxes​​ nascem cheirando a flor.​​ 

Nasci para dançar de salto alto e com um livro na cabeça.​​ 

Nasci pedindo que me lessem o mundo.

Nasci livre. O resto é poesia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RELATO DE UMA​​ MUXE’ ​​ E SUA MÃE​​ 

 

Minha mãe sabe que tenho um namorado

para cada fim de semana.

Sabe que nesta casa

tem reuniões de amantes anônimos

nas noites de sábado,

e que as vezes,

as sessões podem se prolongar

até o domingo de madrugada

numa cama bagunçada e de ponta cabeça.

Para ela Pedro não é Pedro

e sim um moleque que chega às oito​​ 

e vai embora às duas;

Irving, o magro moreno,​​ 

o mototaxista, filho de Tina Belabihui, ​​ 

gato mas sem juízo;

Ángel, o loiro cheio de tatuagens.​​ 

bonito,

educado,

que cumprimenta quando chega,

e sorri quando se vai,

que me chama de sogra

e que não fica vermelho se lhe digo genro,

dá para ver que ele gosta de você,

é o menos inútil,​​ 

se você morasse com ele... ​​ 

eu lhes faço de comer, ​​ 

eu lhes ajudo com a roupa...

...Mãe, Ángel tem esposa,

Ángel também é efêmero.

Minha mãe sabe que desde os onze anos

caminho de salto alto,

sabe que entre vingança e esquecimento,

prefiro uma pica salgada,

ela ensinou-me que aos homens​​ 

nem todo o amor

nem toda a poupança

e me disse que

para ser livre, tem que ser vadia

Minha mãe é o rosto

que desenho no guardanapo dum boteco,

ela sabe tudo sobre mim,

exceto, que sou​​ ramonera.

 

 

 

 

 

 

 

UM​​ MUXE’​​ É...

 

Queer es un culo en busca de material de relleno.​​ 

SEJO CARRASCOSA

 

Muxe’​​ é um salto à boca do abismo.

Muxe’​​ é um sorriso sempre deslumbrante.

Muxe’​​ é um indígena que se sonha princesa.

Muxe’​​ é um corpo de homem com voz de mulher.

Muxe’​​ é uma piada na escola,

uma gargalhada na rua,

um palhaço para todos.

Muxe’​​ é um universo povoado de homens.

Muxe’​​ é estar nú numa rua cheia de olhares.

Muxe’​​ é um sim a tudo e a todos.

Muxe’​​ é desafiar o outro,

ao que odeia, ao que nunca soube amar.

Muxe’​​ é uma anágua prenhada de flores bordadas à mão.​​ 

Muxe’​​ é uma casa sempre aberta.

Muxe’​​ é aquele que nunca diz não.

Muxe’​​ é olhar quem te despreza nos olhos

Muxe’​​ é sonhar que você se casa com um homem.

Muxe’​​ é chegar ao altar de braço dado com o pai que jamais soube te amar.

Muxe’​​ é o que apanhou dos irmãos.

Muxe’​​ é o que brinca com uma boneca de pau.

Muxe’​​ é a travestida que chega a uma festa. ​​ 

Muxe’​​ é uma flor na boca.

Muxe’​​ é um incêndio na montanha.

Muxe’​​ é acordar ereto com uma minissaia.

Muxe’​​ é o garoto que quer chegar com​​ huipil​​ à sua aula de desenho técnico.​​ 

Muxe’​​ é o boteco e seu ventre cheio de pó.

Muxe’​​ é De Profundis de Wilde.

Muxe’​​ é um estudante expulso de casa.

Muxe’​​ é um instante sempre eterno.

Muxe’​​ é uma cintura de 65cm e um pênis de 19.

Muxe’​​ é um orgulho da família, ah não, isso é falso.

Muxe’​​ é uma liberdade que se açoita.

Muxe’​​ é o salto que nunca quebra.

Muxe’​​ é o olho que chora por muitos homens.

Muxe’​​ é um braço, uma perna, e muitos corações.

Muxe’​​ é um filme que verás toda uma vida, mas nunca até o final.

Muxe’​​ são os que nascem feridos.

Muxe’​​ é o milho que não engendra flores.

Muxe’​​ é uma flor que se debulha​​ 

para perfumar sua cama.

Muxe’​​ é um​​ huipil​​ de veludo, caríssimo.​​ 

Muxe’​​ é uma gravura de Goya.

Muxe’​​ é o acento que dá sentido às palavras.​​ 

Muxe’​​ é a mãe legítima da liberdade.​​ 

Muxe’​​ é a​​ tortilla​​ que você come e não reconhece.

Muxe’​​ é a comida que você despreza em público, mas desfruta em privado.

Muxe’​​ é a cachorra que te morde a orelha​​ 

às onze da noite.

Muxe’​​ é uma dança interminável.​​ 

Muxe’​​ é um poema que nunca morrerá.​​ 

 

 

 

 

NO ME ABRACES EN LA CALLE

 

No me digas “te quiero” frente a mis amigos,​​ 

si te respondo se burlarán de mí,

ellos saben que soy una perra

que no se deja amar.

Saben también, que a veces,

doy vueltas en una cama​​ 

y repentinamente amanezco en otra.

No me abraces en la calle,

me dará pena reconocer que soy tuyo​​ 

porque antes de ti

fui de Pedro,

de Samuel,

de Gustavo

y no quiero que me tachen de gata insaciable.​​ 

No me beses delante de mis hermanos​​ 

porque te preguntarán

si ya pasamos de un beso blanco​​ 

a uno más oscuro

o de qué tamaño tienes los pies,

mis hermanos son imprudentes,

no trates de caerles bien.

No me preguntes si creo en el matrimonio​​ 

porque hasta la flores saben​​ 

que hace un tiempo me casé con el VPH​​ 

y la enfermedad nunca me dio el divorcio.​​ 

No digas que me amas

si aún no conoces

la cicatriz que guarda mi cuello,​​ 

si aún no sabes que a los seis años​​ 

fui violado por mi tío​​ 

y después por mi vecino

y a los doce todos los de mi cuadra​​ 

se masturbaban en mí,

y aprendí a guardar silencio.

Si no estás dispuesto a lidiar

con mis cuatro hombres,

no te acerques tanto a mí.

 

 

 

 

AL NIÑO QUE FUI

 

Nací bailando la llorona en los brazos de mi madre.​​ 

Nací siendo un niño​​ muxe’.

Nací en un jardín de puras mujeres.

Nací en septiembre.

Nací tres años antes que Szymborska ganara el Nobel.​​ 

Nací la noche que mi tío se suicidó.

Nací en las redes de una hamaca desnuda.

Nací de un vientre que se abrió cuatro veces.

Nací en una casa sin piso.

Nací mirando un cielo de terciopelo oscuro.

Nací abrazando una muñeca de palo.

Nací con una flor en la cabeza.

Nací con un vestido amarillo.

Nací con un nombre de cinco letras, y por cada letra,

 ​​ ​​​​ tuve un amante.

Nací de un padre que odiaba muxes.

Nací de una madre que nunca conoció el miedo.​​ 

Nací de una abuela y sus múltiples hombres.​​ 

Nací pidiendo que no me maten.

Nací oliendo a​​ guie’ xhuuba’,

porque los muxes nacen oliendo a una flor.​​ 

Nací para bailar en tacones

y con un libro en la cabeza.

Nací pidiendo que me leyeran el mundo.

Nací libre. Lo demás es poesía.

 

 

 

RELATO DE UNA​​ MUXE’​​ Y SU MADRE

 

Mi madre sabe que tengo un novio​​ 

para cada fin de semana.

Sabe que en esta casa

hay reunión de amantes anónimos​​ 

los sábados por la noche,

y que a veces,

las sesiones pueden prolongarse​​ 

hasta el domingo por la madrugada​​ 

en una cama revuelta y de cabeza.​​ 

Para ella Pedro no es Pedro,

sino el chamaco que llega a las ocho​​ 

y se marcha a las dos;

Irving, el flaco moreno,

mototaxista, hijo de Tina Belabihui,​​ 

guapo pero sin juicio;

Ángel, el güero lleno de tatuajes,​​ 

bonito,

educado,

el que saluda cuando llega,

y sonríe cuando se va,

el que me dice suegra

y no se sonroja si le digo yerno,

se ve que te quiere,

es el menos inútil,

vivieras con él,

yo les hago de comer,

yo les ayudo con la ropa...

...Mamá, Ángel tiene esposa,

Ángel también es efímero.

Mi madre sabe que desde los once años​​ 

camino en tacones,

sabe que entre venganza y olvido,​​ 

prefiero un pito salado,

ella me enseñó que a los hombres

ni todo el amor

ni toda la tanda,

y me dijo que

para ser libre, hay que ser puto.

Mi madre es el rostro

que dibujo en la servilleta de una cantina,​​ 

ella sabe todo de mí,

excepto, que soy ramonera.

 

 

 

 

 

 

UN MUXE’ ES...

 

Queer es un culo en busca de material de relleno.​​ 

SEJO CARRASCOSA

 

 

Muxe’​​ es un salto a la boca del abismo.

Muxe’​​ es una sonrisa siempre deslumbrante.

Muxe’​​ es un indígena que se sueña princesa.

Muxe’​​ es un cuerpo de hombre con voz de mujer.​​ 

Muxe’​​ es una burla en la escuela,​​ 

una carcajada en la calle,​​ 

un payaso para todos.

Muxe’​​ es un universo poblado de hombres.​​ 

Muxe’​​ es estar desnudo en una calle llena de miradas.​​ 

Muxe’​​ es un sí a todo y a todos.

Muxe’​​ es retar al otro,​​ 

al que odia, al que nunca supo amar.​​ 

Muxe’​​ es una enagua preñada de flores bordadas a mano.​​ 

Muxe’​​ es una casa siempre abierta.

Muxe’​​ es el que nunca dice “no”.

Muxe’​​ es mirar a quien te desprecia con los ojos.

Muxe’​​ es soñar que te casas con un hombre.

Muxe’​​ es llegar al altar del brazo del padre que no supo

 ​​ ​​​​ quererte.

Muxe’​​ es el que fue golpeado por sus hermanos.​​ 

Muxe’​​ es el niño que juega una muñeca de palo.​​ 

Muxe’​​ es la vestida que llega a una fiesta.​​ 

Muxe’​​ es una flor en la boca.

Muxe’​​ es un incendio en la montaña.

Muxe’​​ es despertar erecto con una minifalda.​​ 

Muxe’​​ es el chico que quiere llegar​​ 

con huipil a su clase de dibujo técnico.

Muxe’​​ es la cantina y su vientre lleno de polvo.​​ 

Muxe’​​ es De Profundis de Wilde.

Muxe’​​ es un estudiante corrido de casa.

Muxe’​​ es un instante siempre eterno.​​ 

Muxe’​​ es una cintura de 65 cm y un pene de 19.​​ 

Muxe’​​ es un orgullo de la familia, ah no, eso es falso.​​ 

Muxe’​​ es una libertad que se azota.

Muxe’​​ es el tacón que nunca se rompe.​​ 

Muxe’​​ es el ojo que llora por muchos hombres.​​ 

Muxe’​​ es un brazo, una pierna,

y muchos corazones.

Muxe’​​ es la película que verás toda una vida,

pero nunca hasta el final.

Muxe’​​ son los que nacieron heridos.

Muxe’​​ es el maíz que no engendra flores.

Muxe’​​ es una flor que se desgrana​​ 

para perfumar tu cama.

Muxe’​​ es un huipil de terciopelo, carísimo.

Muxe’​​ es un grabado de Goya.​​ 

Muxe’​​ es el acento que da sentido a las palabras.​​ 

Muxe’​​ es la madre legítima de la libertad.

Muxe’​​ es la tortilla que comes y no reconoces.​​ 

Muxe’​​ es la comida que desprecias en público, pero disfrutas en privado.

Muxe’​​ es la perra que te muerde la oreja​​ 

a las once de la noche.​​ 

Muxe’​​ es un baile interminable.

Muxe’​​ es un poema que nunca morirá.

 

 

Librería

También puedes leer